A tabela RAÇÃO

As relações tróficas definem um ecossistema

Como qualquer outro organismo heterotrófico, os peixes necessitam de alimento para sobreviver e crescer. Dentro dos ecossistemas, as relações tróficas e os fluxos de energia, definem largamente a função das diferentes espécies (veja a Caixa 19 e Christensen e Pauly, 1993). Existem duas formas de apresentar o consumo específico das espécies:

  • A nível individual, i.e., o consumo de um tipo particular de alimento por um peixe de determinado tamanho, i.e., na forma de ração diária (Rd).

  • A nível populacional, isto é, o consumo (Q) por uma população estruturada por classes etárias em peso (B), isto é, o consumo da população-peso por unidade de biomassa (Q/B).

Pauly (1986) e Palomares & Pauly (1989; 1998) discutiram a relação entre as duas medidas e métodos, por forma a calculá-los. As duas tabelas aqui descritas, RAÇÃO e P/Q, apresentam 471 registos de Rd para 65 espécies e 161 registos de Q/B para 97 espécies. A maior parte destes foram obtidos de Palomares (1987), Palomares & Pauly (1989; 1998), Pauly (1989) e Palomares (1991).

Fontes

Os registos provêm na sua maioria do trabalho do 1º autor, ou de trabalhos em que este esteve intimamente associado. As fontes de dados (campos de referências) e distribuição (localidade, país e salinidade) foram verificados visualmente, enquanto que os tipos de alimento foram verificados através da classificação usada no Taxonomic code do National Oceanographic Data Center (NODC) (Hardy, 1993).

Campos

Recordamos que o termo "ração" (Rd) pretende ser uma estimativa do consumo de alimento diário de um peixe de um tamanho específico. Esta tabela apresenta estimativas de ração e os parâmetros relacionados.

Os campos são:

  • Ração: % Rd (isto é, peso de alimento ingerido num dia*100/peso do corpo);

  • Taxa de evacuação (fracção do conteúdo estomacal que passa no intestino posterior por hora); e

  • K1 =Eficiência de conversão de alimento = crescimento em peso/peso do alimento ingerido durante um determinado período de tempo.

Ração diária, taxa de evacuação e K1 variam com o peso (gramas) do peixe estudado (Fig. 32); com o tipo de alimento ingerido e com a temperatura média (ºC) da água onde o peixe vive. Peso do peixe e temperatura da água são campos numéricos. A salinidade fala acerca do tipo de água no qual o peixe foi amostrado, ou o meio em que a experiência foi realizada, e inclui as escolhas: água do mar, água salobra, água doce.

Os tipos de alimento estão classificados em campos de escolha múltipla

Os tipos de alimento são descritos em dois campos de escolha Alimento I e Alimento II. Alimento I tem 6 escolhas: detritos, plantas, animais bentónicos, zooplâncton, nécton, e outros. Alimento II dá-nos escolhas de grupos mais detalhados de alimentos descritos na tabela ALIMENTOS e Caixa 22. Ambos os campos incluem a escolha "outros" para itens que não se encontram na lista. O campo de texto Nome de alimento dá-nos descrições mais especificas, ex, o nome científico do item alimentar. O alimento artificial é especificado no Nome de alimento com uma breve descrição do método de preparação.

Os Métodos utilizados para estimar a taxa de evacuação e a Ração diária (Rd) são dados. A taxa de evacuação é geralmente estimada por uma de duas abordagens:

  1. Estudos laboratoriais, envolvendo abate sequencial ou bombeamento para fora do estômago de um grupo de peixes alimentado ao mesmo tempo (ver Elliott & Persson, 1978); ou

  2. Fazendo uma aproximação teórica de um modelo derivado do estudo de conteúdos estomacais de peixes apanhados na vida selvagem, cobrindo um ciclo diário (ver por ex. Sainsbury, 1986).

MAXIMS, um software desenvolvido no ICLARM por Jones et al (1991), para implementar o modelo Sainsbury (1986), é agora largamente utilizado para a abordagem em (2). O software é providenciado como um campo de escolha para o método utilizado na estimação da taxa de evacuação e as outras escolhas são experiências laboratoriais, i.e., (1) e "outra".

Os métodos disponíveis no campo de escolha para o cálculo do Ração Diária são: uso dos dados dos conteúdos estomacais com o software MAXIMS; através do produto da taxa de evacuação pelo conteúdo estomacal médio (Elliott & Persson, 1978); métodos baseados na análise do tubo digestivo (ex: Bajkov 1935, Gorelova, 1984); estimação indirecta pelo modelo metabólico de Winberg (Winberg 1956; Mann 1978); estudos de consumo de oxigénio (Wakeman et al. 1979); e experiências de alimentação e/ou estimativa de K1 (ver Pauly 1986). A escolha "outra" é para casos em que o método utilizado na lista. Aqui, o método tem de ser especificado no campo Comentários mencionado anteriormente.


Fig. 32. Ração relativa de Gadus morhua (pontos a preto) comparada com a dos outros peixes. A grande dispersão de pontos é devida aos diferentes tipos de alimentação, à temperatura ambiental e a outras variáveis que serão padronizadas nas versões futuras deste gráfico.

Como chegar lá

Chega à tabela RAÇÃO clicando no botão Biologia na tabela ESPÉCIES, no botão Ecologia trófica na tabela BIOLOGIA, e no botão Ração da janela ECOLOGIA TRÓFICA. Clicando duas vezes sobre uma das linhas na tabela LISTA DE ESTUDOS DE RAÇÃO poderá obter as informações relativas ao estudo designado.

Antecipamos desde já, que o número de espécies e stocks cobertos por esta tabela aumentará rapidamente no futuro, assim que um grande número de dados estiver disponível em reuniões anuais do International Council for the Exploration of the Sea.

Referências

Bajkov, A.D. 1935. How to estimate the daily food consumption of fish under natural conditions. Trans. Am. Fish. Soc. 65:288-289.

Christensen, V. and D. Pauly, Editors. 1993. Trophic models of aquatic ecosystems. ICLARM Conf. Proc. 26, 390 p.

Elliott, J.M. and L. Persson. 1978. The estimation of daily rates of food consumption for fish. J. Anim. Ecol. 47:977-993.

Gorelova, T.A. 1984. A quantitative assessment of consumption of zooplankton by epipelagic lantern fishes (Family Myctophidae) in the equatorial Pacific Ocean. J. Ichthyol. 23(3):106-113.

Hardy, J.D. 1993. NODC taxonomic code links biology and computerized data processing. Earth Systems Monitor 21(2):1-2.

Jarre, A., M.L. Palomares, M.L. Soriano, V.C. Sambilay, Jr. and D. Pauly. 1991. Some new analytical and comparative methods for estimating the food consumption of fish. ICES Mar. Sci. Symp. 193:99-108.

Mann, K.H. 1978. Estimating the food consumption of fish in nature, p. 250-273. In S.D. Gerking (ed.) Ecology of freshwater fish production. Blackwell Scientific Publications, Oxford.

Palomares, M.L.D. 1987. Comparative studies on the food consumption of marine fishes with emphasis on species occurring in the Philippines. Institute of Biology, College of Science, University of the Philippines, Diliman, Quezon City. 107 p. MS thesis.

Palomares, M.L.D. 1991. La consommation de nourriture chez les poissons: étude comparative, mise au point d’un modèle predictif et application à l’étude des réseaux trophiques. Ecole Nationale Supérieure, Institut National Polytechnique de Toulouse. 211 p. PhD thesis.

Palomares, M.L. and D. Pauly. 1989. A multiple regression model for predicting the food consumption of marine fish populations. Aust. J. Mar. Freshwat. Res. 40:259-273.

Pauly, D. 1986. A simple method for estimating the food consumption of fish populations from growth data and food conversion experiments. Fish. Bull. 84(4):827-839.

Pauly, D. 1989. Food consumption by tropical and temperate marine fishes: some generalizations. J. Fish Biol. 35 (Supplement A):11-20.

Sainsbury, K.J. 1986. Estimation of food consumption from field observations of fish feeding cycles. J. Fish Biol. 29:23-36.

Wakeman, J.M., C.R. Arnold, D.E. Wohlschlag and S.C. Rabalais. 1979. Oxygen consumption, energy expenditure and growth of the red snapper (Lutjanus campechanus). Trans. Am. Fish. Soc. 108:288-292.

Winberg, G.G. 1956. Rate of metabolism and food requirements of fishes. Fish. Res. Board Can. Trans. Ser. No. 194.

Maria Lourdes D. Palomares e Daniel Pauly